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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Em Nome de Deus

Vitor A. Schütz

O filme “Em nome de Deus” gira em torno da história de Abelardo e Heloise. Ele um filósofo e um dos mais famosos professores de Paris. Ela uma jovem recém saída de um convento, sobrinha de um comerciante de “relíquias sagradas”.

Durante o filme, ambos lutam por um amor que aos olhos de Heloíse parece uma dádiva de um Deus bondoso e amoroso, contudo na visão de Abelardo, esse sentimento vem carregado de culpa e pecado, pois fere sua condição de homem casto e devotado unicamente ao dom de ensinar. É importante ressaltar que Abelardo, diferentemente da visão de Heloíse, vê a Deus como juiz e inflexível.

Contudo há todo um contexto que se desenvolve alheio ao enlace amoroso dos protagonistas. Há a disputa de dois modos de conhecimento, os dialéticos e os antidialéticos. Os dialéticos, ante um questionamento, seguem até a profundidade da questão, acreditando no problema e questionando as descobertas com o conhecimento que já possuem. Os antidialéticos procuram e acreditam na verdade útil. A verdade que complementa e fundamenta seus conhecimentos, fazendo com que não precisem aprofundar-se nas questões que permeiam seu cotidiano, assim conservam seus limites. Abelardo transita entre essas duas linhas, onde em determinados momentos apresenta-se dialético, procurando aprofundar-se em questões filosóficas, porém, quando as questões relacionam-se como seu romance, aparece seu lado antidialético, não questionando a verdade útil, sua condição de casto e sua missão como filósofo.

A mulher nessa época é representada pela figura de Heloise. A mulher deveria ser submissa, subserviente. A educação, quando recebida, deveria ser dentro das instalações de um convento (ou em casos especiais com um tutor), e muitas vezes, era um conhecimento antidialético, onde os questionamentos ficavam a parte de sua realidade. A mulher era tratada como propriedade, tendo seu futuro e escolhas negociadas pelo seu responsável, como o enlace matrimonial, a educação e sua vocação. A mulher não tinha escolha, as escolhas já estavam pré-definidas, também não podiam mostrar sua inteligência, nem questionar os problemas filosóficos, pois essa área era exclusiva dos cátedros, todos homens.

A relação entre ensino e aprendizagem fica bem clara quando das aulas na universidade e mesmo na pousada onde os estudantes moravam. Contrariando os costumes, Abelardo permanecia morando por um tempo com seus alunos, ali conduzindo debates e questões diversas. Além disso, o mestre aparecia como um instigador e um condutor dos pensamentos e discussões dos aprendizes. Assim, no universo masculino, o método de conhecimento tendia mais (mas não sempre) ao dialético. Entretanto, dentro dos conventos, no universo da educação feminina, estas deveriam aceitar o que lhes era dito, sem questionar. Esse método se aproxima com a antidialética, onde a verdade útil é inquestionável. As mulheres que teimavam em abrir horizontes eram advertidas e até punidas.

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